Há concertos que se atravessam no nosso caminho por acaso, sem planos nem grandes antecipações. Fui a este, em concreto, levada por um amigo — fã de longa data de Anathema — e o que parecia ser apenas uma noite de “apoio” tornou-se numa descoberta inesperada: Haunt the Woods e Weather Systems — dois nomes que, até então, me eram musicalmente desconhecidos.
A noite começou com a banda britânica Haunt the Woods. A sua sonoridade é uma fusão interessante entre folk progressivo, rock alternativo e prog. Com uma intensidade emocional difícil de ignorar, as suas canções construíram lentamente um ambiente denso, mas envolvente, com momentos de calmaria e explosão — muito por mérito do vocalista Jonathan Stafford — que prenderam a atenção mesmo de quem chegou sem conhecer nada do repertório. Entre os temas apresentados, destacaria três: The Line, Pt. II — uma canção intensa e carregada de emoção que me captou por completo; Helter Skelter, que faz parte do EP de estreia The Line e que é um tema original, sem relação com a canção dos Beatles com o mesmo nome; e Sleepwalking — o último tema da noite, cuja interpretação a capella, com toda a banda junto ao público, tornou o momento especialmente memorável. Um concerto curto, mas intenso, que despertou em mim a curiosidade de os seguir e, sem dúvida, incluí-los nas minhas playlists.
É por isso que sou defensora de vermos (e apoiarmos) as bandas de abertura. Por vezes, entramos numa sala fãs de uma banda e saímos de lá com outra no coração.
Com o ambiente já bem aquecido e a sala cada vez mais composta, era altura de receber os Weather Systems.
Apesar de reconhecer o mérito e a influência do trabalho dos irmãos Cavanagh, Anathema nunca foi uma banda que acompanhasse de forma próxima — apenas por uma questão de gosto pessoal. No entanto, é inegável que, ao longo de quase três décadas, construíram um legado emocional e atmosférico que conquistou fãs em todo o mundo.
Em 2020, para desgosto dos seus seguidores, a banda britânica anunciou uma pausa indefinida, e o seu último concerto aconteceu em Portugal — um ciclo que se fechava. Em 2025, assistimos ao início de uma nova era, curiosamente, no mesmo país.
Assim, depois de cinco anos de silêncio, Daniel regressa com os Weather Systems, uma nova banda que carrega a essência introspectiva dos Anathema, mas com um fôlego renovado e, à exceção do baterista Daniel Cardoso, uma formação completamente nova: Soraia Silva na voz e André Marinho no baixo.
Apesar de algum nervosismo, natural numa estreia, todos os elementos da banda revelaram uma presença sólida e segura em palco. Emocionalmente presente e profundamente grato, Cavanagh chegou mesmo a admitir que não sabia o que esperar em termos de adesão do público, confessando-se surpreendido e tocado ao ver a sala tão bem composta. Esse momento de vulnerabilidade foi recebido com entusiasmo, reforçando a ligação entre o público e o músico.

O alinhamento procurou destacar várias faixas do álbum de estreia — temas como Synaesthesia, Ghost in the Machine e aquela que, segundo Danny, é a melhor música do disco e a que lhe dá nome, Ocean Without a Shore. Estas canções, marcadas por arranjos atmosféricos, dinâmicas subtis e letras profundamente introspectivas, continuam a revelar a identidade criativa de Daniel.
No entanto, foi quando revisitaram temas dos Anathema que o público verdadeiramente explodiu. A nostalgia era palpável. A sala reagia com entusiasmo, quase em uníssono, ao reconhecer os primeiros acordes de canções que marcaram uma geração de ouvintes — como Springfield, A Simple Mistake, Deep, Closer e Flying, só para citar algumas. Mesmo para quem, como eu, nunca acompanhou a banda de perto, foi impossível ignorar o impacto que aquelas músicas ainda têm — e como continuam a ecoar de forma poderosa. O final foi apoteótico, com Fragile Dreams a encerrar a noite em pleno.
Os Weather Systems não tentam apagar o passado. Pelo contrário, assumem-no com respeito, usando-o como base para construir algo novo. Danny Cavanagh agradeceu ao irmão Vincent, a quem dedicou uma das músicas, reconhecendo a sua mestria e confessando a exigência de interpretar agora, ele próprio, temas dos Anathema que antes pertenciam à voz do irmão.
Em retrospetiva, este concerto foi muito mais do que uma estreia: foi um reencontro com um legado, uma ponte entre o passado e o presente, e uma promessa de futuro. Mesmo para quem não traz uma ligação emocional direta aos Anathema, foi impossível não sentir o peso simbólico da noite. Haunt the Woods surpreenderam pela autenticidade e intensidade, enquanto os Weather Systems mostraram que há vida nova a nascer das cinzas de um projeto marcante.
São estes momentos inesperados que nos recordam por que continuamos a ir a concertos: para sermos apanhados de surpresa e sair com algo novo no ouvido — e no coração.